A ignorância pluralista acontece quando os membros de um grupo acham que as opiniões dos demais são diferentes da sua. E por isso se calam, ou expressam posições diferentes da sua real opinião. Por exemplo, quando um aluno tem uma dúvida. Como ninguém mais pergunta, ele acha que todos os demais compreenderam tudo. E se cala, apesar de, no íntimo e em segredo, a maioria também não ter entendido o ponto do professor.
Por exemplo, em uma pesquisa qualitativa, por discussões em grupo, estamos estudando uma marca que não é líder de mercado. Digamos o biscoito Siroco. A maioria das consumidoras não tem objeção pessoal à marca. Entretanto, elas entendem que as demais pessoas no grupo têm uma má opinião sobre ela. E relutam em falar bem da marca Siroco, com medo se serem minoritárias na sua defesa e, por isto, serem malvistas. Ou pior, expressam uma opinião que não é a delas. E acabam falando mal da marca, pois consideram que aquela é a opinião majoritária do grupo.
O grupo, portanto, acaba sendo um fracasso em revelar a percepção das consumidoras, por sua percepção equivocada de si mesmo – sua ignorância pluralistica. Por não acreditarem que sua opinião é compartilhada, acabaram se omitindo ou expressando uma opinião oposta. O resultado da pesquisa, neste caso, é que a imagem do Siroco é ruim, quando na verdade a maioria dos membros, individualmente, não o rejeita.
Como contornar este problema? Existem várias maneiras, e elas vão depender das circunstâncias. Por exemplo, tarefas individuais antes da discussão grupal podem ser um ótimo caminho. Estas tarefas podem acontecer dias antes ou no mesmo dia da discussão. Pequenos questionários individuais antes do grupo, de tal maneira que as pessoas se comprometam com suas respostas, também podem ser uma ótima maneira de contornar a ignorância pluralística. Técnicas projetivas também podem trazer muitos insights, bem como técnicas de análise do discurso.
Um bom pesquisador, que conheça este fenômeno e a ciência comportamental, irá sugerir a melhor maneira de lidar com ele. Além de técnicas específicas, como as que citei acima, a própria dinâmica da moderação e a sensibilidade do moderador ajudarão a superá-lo. Mas uma coisa é essencial: conhecer a ignorância pluralística, assim como outros efeitos que irei mencionar. Sem conhecê-los, não temos como identificá-los e desmontá-los.
Miller DT (2023) A century of pluralistic ignorance: what we have learned about its origins, forms, and consequences.
Front. Soc. Psychol.
