
Vimos que o desejo de ser sustentável e a consciência de que estamos causando impacto ao ambiente não são seguidos necessariamente por comportamentos sustentáveis.
Sabemos que uma forte intenção e conhecimento suficiente sobre um tema poderiam gerar ações de curto prazo. Por exemplo, se sei que atividades físicas trazem muitos benefícios e se desejo muito seguir uma rotina de exercícios, imediatamente irei fazer a inscrição na academia. Este é um comportamento, motivado por informação e atitude.
No entanto, informação e atitude não garantem que irei frequentar a academia. A frequência, durante um período prolongado, é um hábito. Um hábito é um comportamento repetido e automatizado. E conhecimento e atitude favorável não garantem a criação de um hábito.
Existem diversas barreiras à criação de um hábito. O consumo sustentável, como hábito, não acontece apenas porque a atitude favorável e o conhecimento do problema estão lá, justamente porque há barreiras à automatização deste comportamento. O entendimento de como agir sustentavelmente é uma delas, como já falamos. Mas existem também vieses cognitivos que impedem as consumidoras de agirem de modo sustentável. Testamos a concordância a 12 frases que refletem vieses cognitivos. Pelo menos 30% dos consumidores concordam totalmente com algum dos vieses, e 60% concordam totalmente ou em parte.
Um deles é o que chamamos de viés do otimismo. Na nossa pesquisa, o viés do otimismo foi retratado pela frase “Acredito que a humanidade está afetando a natureza e causando o aquecimento global, mas a Terra vai se adaptar”; 36% das pessoas concordam com ela.
Este modo de pensar leva ao imobilismo. Se acreditamos que, de um modo ou outro, as coisas vão terminar bem, acabamos não nos mobilizando para alterar o rumo das coisas. A crença de que a Terra, de uma maneira mágica, vai superar, sozinha, os efeitos da ação humana sobre o clima, nos conforta e ao mesmo tempo leva à omissão.
É um pensamento muito humano e apazigua a culpa e o medo dos efeitos adversos do aquecimento global. Além disso, dá uma explicação racional do porquê eu não faço o suficiente para combater esse problema. Mas, ao atrapalhar a adesão a um comportamento sustentável, acaba por atrapalhar a criação de um hábito mais amigável ao ambiente.
Nos próximos textos vamos falar de outros vieses que funcionam como barreiras à criação de hábitos de consumo sustentáveis.
Pesquisa com 10 EPs online em São Paulo e 500 entrevistas online, Brasil. Conduzida em agosto de 2024.